Dica para escritores #2 - Perder a vergonha
Estás à espera que te descubram sem teres feito nada por isso? É um mito.
Escrever é uma das atividades criativas mais solitárias, mas nunca nos queixamos de solidão. Arriscaria dizer que isto é transversal a todas as pessoas criativas. A outra coisa que parece que temos em comum é uma resistência quase ilógica à auto-promoção.
O que escrevemos nunca está suficientemente bom, não é verdade? Mesmo que o conto que submetemos já tenha sido selecionado e prestes a ser publicado. Ou o nosso romance de estreia esteja a caminho da 3.ª edição, apenas semanas após o lançamento. Ou estarmos na shortlist para um prémio.
Sabes uma coisa que descobri no último mês? O nosso trabalho só nunca está suficientemente bom para o nosso eterno apêndice, síndroma do impostor; aquela vozinha que diz «sim, mas».
Ao fim de 8598584940930 sessões de psicoterapia, substituí o «não sei» por uma resposta concreta à pergunta «o que é que faz quando a “Cátia Vanessa” aparece?». Respondi «pico-me». E, assim, dei-lhe uma nova função.
Claro que isto demorou 8598584940930 sessões, mas eu já andava por aí a apregoar os benefícios de nos auto-promovermos e de partilhar, sem vergonha, os nossos feitos.
A presença nas redes sociais é obrigatória?
Sim, o algoritmo é um filho da puta e as plataformas não são verdadeiramente tuas, pelo que sentes sempre que entraste em campo para jogar futsal e afinal era andebol.
Infelizmente, ter presença nas redes sociais é um mal necessário. Mas não precisa de ser um calvário. Simplifica:
Escolhe a(s) plataforma(s) onde te sentes mais confortável;
Define a tua regularidade — se queres publicar sempre às terças ou se és daquelas pessoas que só publica quando tem alguma coisa para anunciar ou partilhar;
Lê artigos da especialidade e cria um plano de acordo com as dicas deles, mas adapta à tua realidade;
Lembra-te que o número de leitores / compradores de livros não é proporcional ao número de seguidores e que nem tudo o que parece é*.
*há tantas formas de viciar o jogo e tanta gente que nunca sai do fake it until you make it, que qualquer dia escrevo sobre isso.
A maravilha híbrida que é o Substack
Graças a todos os deuses por esta plataforma, que eu já não tenho idade (nem vista) para ler textões no Facebook e no Instagram que dizem «continua nos comentários».
Isto não é uma tentativa velada de publicidade; é mesmo porque esta ferramenta desobriga-me de ter uma segunda, à parte, para envio de newsletters.
Investe algum tempo a criar uma newsletter (ou um Substack), mesmo que seja só para enviares quando lançaste alguma coisa nova. Aí, sim, tens a certeza que estás a chegar a quem te quer ler.
Por exemplo, o Stephen King, que é um rapaz que dispensa apresentações, continua a enviar uma newsletter com as datas de lançamento dos novos livros.
Tens MESMO de ter um Press Kit
Esta é daquelas ferramentas que te vai facilitar a vida. O press kit é uma pasta partilhada — que podes ter no Google Drive, Dropbox, ou outra plataforma deste género — com:
Foto(s) de autor
Biografia atualizada
Sinopses da tua obra publicada e material promocional (se existir)
Podes hiperligar a pasta nas tuas redes sociais, por exemplo, ou partilhá-la apenas quando alguém pedir.
Nem imaginas a festa que fazemos na Fábrica do Terror quando alguém nos envia o press kit. Facilita tanto o nosso trabalho.
Só não ponho o meu aqui como exemplo, porque ou tirava a tarde de Domingo para o actualizar ou para escrever este post. Ganhou o post.
Finalmente, o elefante na sala: vamos falar de comunicados de imprensa.
Vou partilhar contigo três desculpas que já ouvi para não enviar um comunicado de imprensa:
«O [PRÉMIO] não é assim tão importante que mereça uma notícia.»1
«Vou esperar até fazer alguma coisa “grande”.»2
«Não gosto. Parece que estou a vangloriar-me.»3
Sabes quem é que decide o que deve ou não ser publicado? Os órgãos de comunicação social. Portanto, não controlas esse processo. A única coisa ao teu alcance é avisar estas pessoas de que existes, fazes coisas e, se eles quiserem, acabaste de enviar tudo o que eles precisam saber.
Descarrega aqui o modelo de comunicado de imprensa que podes usar à vontade. Se tiveres perguntas, falamos.
Para onde deves enviar, deixo ao teu critério. Há quem siga o método «atirar o barro à parede» e há quem faça uma seleção. No portal da ERC podes pesquisar todos os órgãos de comunicação social do país e respectivos contactos.
Cineasta independente quando o seu filme de estreia ganhou o 30.º prémio internacional.
Atriz que divide o seu tempo entre Los Angeles e Portugal, com mais de 100 créditos no IMDB.
Todos os criadores de terror portugueses talentosos com que me tenho cruzado.