Sei (exatamente) o que correu mal
Resumo de 2024: 10 submissões. 6 rejeições. 1 aceite. 3 aguardam resposta.
Se já escrevesse este blog há mais tempo, no início de cada novo ano teria partilhado o balanço do anterior.
Todos os escritores sabem que as rejeições fazem parte do processo, mas custam sempre — porque passámos horas à volta daquilo, porque estávamos confiantes que a ideia era mesmo boa e a execução melhor ainda, porque receber uma rejeição é quase o mesmo que dar razão ao nosso síndroma do impostor (o meu chama-se Cátia Vanessa; já que está comigo mais vezes do que gostaria, mais vale ter nome).
A 1ª custa mais do que a 14.ª? Custam todas. O que muda é a forma como olhamos para o texto que não foi aceite. Não deve passar a ser a coisa mais feia e horrorosa que alguma vez escrevemos e que nunca deverá ver a luz do dia, mas sim uma destas opções:
É um daqueles textos que não dá para salvar neste momento e que tem de ir para a caixinha dos mortos (no meu caso, é uma pasta no meu computador que diz KILLED; até hoje, ainda não ressuscitei nenhum).
A ideia ainda está lá, tu ainda gostas dela e tens a certeza que melhora se lhe deres uma sacudidela.
Não quero que isto seja um artigo de auto-ajuda “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”. Prefiro partilhar o que correu mal (recuso-me a escrever “menos bem”), até porque a maioria dos e-mails de rejeição não são personalizados.
Correu mal porque fiz estas 5 coisas (algumas no mesmo texto):
Forcei o texto porque estava em cima do deadline. Parir contos a ferros só funciona se já ando a marinar a história na minha cabeça há algum tempo e só falte passá-la para o papel.
Foquei-me no que poderia significar ter o texto publicado naquela antologia em vez de focar-me só na história. Ninguém é de ferro e todos ficamos star struck às vezes. Qual é o truque? Quando descobrir, partilho.
Forcei o texto para encaixar no tema da open call. Até hoje, de todas as vezes que tentei (sim, foi mais do que uma vez) esta “estratégia” não funcionou para mim. E no texto nota-se (e se eu notei, quem está a seleccionar contos também notou).
Não esperei pela personagem. Isto vai ser a coisa mais pedante da lista, aviso já. O meu processo de escrita é esquisito: a personagem vem primeiro (e é sempre uma pessoa muito distinta) e não se vai embora até que eu escreva tudo o que ela me está a “contar”.
Entrei em modo pânico / piloto automático porque não tinha feito “nada” de ficção durante o ano. É a pior coisa que posso fazer, mas que ainda faço algumas vezes.
Pronto, coisinha leve para primeiro post, não foi?
O mês passado em:
Livros
Ainda vou a meio, mas este livro já me fez encontrar filmes e séries que de outra forma não saberia que existiam e que tinham sido realizados por mulheres! É fruto da investigação exaustiva de Heidi Honeycutt e essencial para a história das mulheres no terror — ela escreve sobre tudo o que conseguiu encontrar no mundo inteiro. Foi lançado no MOTELX 2024 e já não o apanhei à venda na loja do festival. Na altura, comprá-lo pela Headpress não foi possível porque não entregavam em Portugal, mas consegui através do Marketplace da FNAC. Claro que ficou retido na alfândega, mas o livro vale o esforço.
Séries
“Disclaimer”, de Alfonso Cuarón e com Cate Blanchett, está disponível na Apple TV+. Confesso que comecei a ver sem fé, porque “não tinha mais nada para ver” (porque “Severance” ainda não voltou e o meu entusiasmo por “Silo” esmoreceu depois de ter terminado os livros) e porque tenho dado por mim a deixar séries e filmes a meio.
Filmes
“Heretic” convenceu-me que pôr o Hugh Grant em comédias românticas tem sido um erro de casting. Onde ele está bem é no terror.
O livro da Heidi Honeycutt levou-me a “Gherayee”, um filme de 1980 co-realizado por Aruna Raje. É um bocadinho longo e há tendência para o considerarem um remake indiano do Exorcista — não é, resistam às comparações. No papel de um guru com más intenções, está Amrish Puri que reconhecemos de outro filme em que ele fez de… guru com más intenções (pista: “Kali Ma! Kali Ma!”).
Podcasts
Ando a treinar-me para não adormecer (ou distrair) com podcasts. Ainda não acertei na fórmula, mas o treino tem sido divertido. Ao menos isso.
Passei Dezembro em modo binge com este (e espero ansiosamente pela próxima temporada): Livros da Pi*a.